quarta-feira, 29 de abril de 2009

Dois gumes dos espaços culturais: pensando a Música e a Geografia




Uma leitura há algum tempo me chamou alguma atenção por tamanha originalidade e apontamento para uma realidade, apesar de aparentemente óbvia, um pouco confusa na história (da cultura) do Brasil: um ensaio de Antônio Cândido chamado “Literatura de Dois Gumes” no qual (bem resumidamente) o autor levanta a tese de como a literatura, bem como o próprio idioma lusitano, foram armas de dominação ideológica (e territorial) dos povos indígenas fortíssimas que, no entanto, sofreram uma grande influência da cultura indígena num todo, o que ele chama de adaptação cultural, acabando por contemplar uma nova literatura, ou mesmo cultura, agora brasileira.


Lendo ainda alguns textos sobre Geografia e as suas reflexões sobre o espaço, vi que autores colocam o espaço como um reflexo das relações sociais, sendo que o mesmo também pode refletir outras relações sociais (um exemplo bem básico para entender essa lógica é pensar o capitalismo como gerador um espaço desigual devido as suas relações sociais desiguais e que a partir dessa espacialização desigual, novas relações se fazem. Um bairro mais pobre, por exemplo, fruto espacial da desigualdade social, tem nele suas associações, ligações entre moradores.. ). Logo pensei em um quadro comparativo com o ensaio de Cândido e as reflexões me tomaram. Tendo a Música como paixão, tal qual a Geografia, as reflexões começaram a tomar um rumo, a meu ver, interessante. Lançando mão da música como um compartimento cultural, venho tentar propor uma dialética (salve Marx!) entre o que chamo de “Geografia da Música e Música da Geografia”, os dois gumes culturais, a qual tentarei explicar brevemente.


Associo o espaço reflexo de relações sociais com a dominação cultural dos portugueses, visto que a partir da dominação cultural, estes tiveram o aval para a apropriação e nova divisão do território brasileiro; contrastando esta percepção ao espaço refletindo relações sociais associada agora à influência dos índios na literatura e cultura produzida pós colonização, visto que como corolário da já dada dominação, organização espacial e da nova troca social (inclusive genética), foi gerada um nova produção, agora com um novo cunho.


E a Geografia e a Música nisso tudo? Ai está o cerne da questão: a partir dos dois gumes colocados proponho uma “Música de Geografia”, que seria uma ótica da produção musical como um reflexo do espaço e das relações vividas, ou mesmo uma descrição destes componentes, a exemplo do movimento Manguetown (descrevendo a relação um tanto quanto cruel da relação homem-meio na região), da Cantoria (encabeçada por Xangai e descrevendo o Brasil sertanejo), O Clube da Esquina ( “sou do mundo sou Minas Gerais!”) e uma série de outros exemplos que nos remetem as condições ambientais, relações com o lugar (“da janela lateral, do quarto de dormir”?), ao território (já citado Minas ou mesmo as grandes composições enaltecendo o território brasileiro e seu povo) e outras expressões geográficas. Este braço da tese conflui com o primeiro gume colocado, aquele sobre a dominação dos portugueses que comparara ao espaço como reflexo das relações sociais.


Partindo para o outro lado da dialética proponho a “Geografia da Música”, que conversando com o segundo gume (do espaço refletindo relações sociais) tem como projeto descrever as espacializações a partir da música. Me veio a cabeça coisas com a região de algum estilo musical, a estruturação espacial de uma cidade para uma manifestação musical (a exemplo das cidades do forró nordestinas na época junina), um mapeamento dos bares a partir do estilo musical (ideia já efetivada em Juiz de Fora no livro ”Assuntos de vento - breves histórias da MPB em Juiz de Fora” de Márcio Itaboray), organizações espaciais diversas a partir da música e da cultura, dentre outras.


Tudo está muito imaturo ainda na minha cabeça e tenho certeza que a tese pode e deve ganhar um viés mais robusto, sobretudo se ela sair do campo teórico e chegar a prática. Eu e minhas idéias.. Não sei sinceramente se a proposta faz algum sentido, ou mesmo as interligações e analogias criadas. Sei que veio a idéia e estou externalizando. Entre Geografias, músicas e sonhos...




Agradeço muito os comentários dos amigos e parentes. É realmente muito bom o retorno positivo de vocês. Instiga. Valoriza. Fico muito feliz.

Brigadão!

Abraços!!

Nathan



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